Aparências Enganam


Aparências

Henry e Carl nasceram em Dublin na década de trinta. Em quarenta e cinco, mudam-se para Budapeste. O motivo, câncer: é o mal do século pensou Henry, sem dizer nada a seu irmão. Os pais tiveram morte lenta e penosa. A mãe sofria da doença na garganta e fumava muito.  Já o pai pagou um alto preço por seus infindáveis porres. Uma vez por semana secava de três a quatro garrafas de vodka: é o frio dizia ele. Para os irmãos o frio tinha outro significado. O velho acabou morrendo de câncer no estômago, seguido de cirrose múltipla. Não se pôde aproveitar muita coisa do pobre homem.

Em 1955 deixam Budapeste e se mudam para a França. O destino: trabalho de garçom em um restaurante de quinta no subúrbio de Paris. Doze horas lavando pratos e cuidando da limpeza. Os clientes, os da pior espécie. Viajantes, cafetões, prostitutas, pilantras e vigaristas das mais variadas “patentes”. Mas isso pouco importava, estavam ali para trabalhar e foi isso que fizeram.

A nova vida em Paris deu-se rapidamente. O que ganhavam pagava o aluguel de um pequeno apartamento, em um bairro pobre da capital, também no subúrbio. O lugar era um cortiço de imigrantes e vagabundos que se enfurnavam naqueles cantos para se esconder da polícia, viver no ócio ou por não ter outra opção mesmo.

O apartamento era velho, com paredes mofadas e dando sinais de desgaste pelo tempo. Cômodos minúsculos e apertados. Apenas cozinha e um quarto com banheiro. Tudo no mesmo ambiente. O apartamento era mais comprido do que largo, dava a impressão de se morar num estreito e longo corredor. A vida dos irmãos seguia na mais pura normalidade. Até que um dia.

Era uma noite fria do inverno europeu. Depois de várias rodadas de cerveja, eis que surge, no alto de seus 1,80m, pernas longas, cintura fina, cabelos claros, levemente desarrumados, rosto meigo, olhar maroto e com muita sensualidade, uma escultura de mulher. Era divina. Entra no recinto sabendo do seu potencial. Ao passar pela porta, caminha três, quatro passos e para. Abre um lindo sorriso e diz: Algum cavalheiro pode me pagar uma bebida? Hoje eu quero me divertir. Silêncio... Até que a população masculina explode aos berros. Dolores era uma mistura de italiana com romena, que veio morar em Paris para fugir da máfia Siciliana. Estava na capital francesa há três anos e era famosa pela sua beleza e dotes.

A reação dos irmãos foi tão imediata e inusitada quanto à própria entrada da mulher. Os dois dirigem-se a ela e fazem a proposta. O local combinado é um pequeno hotel a poucas quadras do bar frequentado pelos irmãos e pela mulher. Os três dirigem-se pela rua, ambos calados. Henry e Carl já sentem na “pele” o “entusiasmo” pela Dolores. Chegam ao pequeno hotel em passam pela portaria. Um homem dorme embriagado pelo sono. Sobem dois andares de escada e chegam até o quarto. Os irmãos estão eufóricos. Ela não fala nada, apenas sorri.

Abrem a porta do recinto e está escuro. Na frente Dolores. Ela procura o interruptor seguida de tiros, tiros e mais tiros. Um grito, silêncio e por fim, o som pesado de um corpo caindo no chão. Mais silêncio e mais tiros. Novamente o mesmo som pesado. Passos rápidos e sangue. Lá fora, frio e silêncio. Ao menos é o que parece.

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