Obesidade mórbida!

Esta imagem é mais que emblemática. Ela mostra um homem magérrimo, quase esquálido, suportando em seus ombros uma figura obesa muito maior que ele. E o detalhe: na mão direita esta a imagem do símbolo máximo da justiça, a balança!

Não tem como não olhar para essa imagem, escultura do artista dinamarquês Jens Galschiot e não fazer relação imediata com a justiça brasileira. Magistrados, sejam eles juízes, promotores, desembargadores, e pode colocar junto aí no bolo (porque todos fazem parte do sistema do Poder Judiciário), oficiais de justiça e toda a gama que incorpora esse poder. Todos (magistrados são a parte bem maior do sistema), corroboram para a situação calamitosa que nos encontramos.

E fico imaginando a capacidade que temos de suportar tamanho peso.

E se você acha que o judiciário não tem tanto peso assim, tudo bem, respeito, mas não é isso que o brasileiro "normal" (aquele que acorda cedo, paga as contas, gera e tem emprego, paga imposto, enfrenta a violência, encara a precariedade das estradas, das calçadas, a falta de esgoto, de água, a ineficiência da saúde, de infraestrutura e por aí vai), não é isso que esse brasileiro percebe...

O cidadão comum sabe bem onde aperta o sapato.

É difícil compreender e acreditar em mudanças significativas na Justiça brasileira. Vemos um poder que se auto protege, reajusta salários com uma velocidade impressionante, sempre apoiado na justificativa que o governo federal não atualiza há anos a folha salarial.

Como entender o aumento sugerido de 16,38% dos salários de ministros do Supremo Tribunal Federal? E o auxílio-moradia? E o auxílio-alimentação? E o auxílio-educação? Como explicar para a população todos esses auxílios de quem já recebe um salário acima dos 30 mil reais?

São benefícios que vão impactar em cerca de 40 bilhões de reais nas contas públicas. Vão descer como uma cascata gigante desembocando em todas as comarcas e jurisdições do país.

Existe um convencimento de que hoje é praticamente impossível retirar o auxílio-moradia. Ela já se incorporou de tal forma na magistratura que não é mais viável retirar esse aumento.

Isso tudo são benefícios que aliado a postura militante de muitos do judiciário, especialmente de ministros da alta corte, gera um grande desgaste para o terceiro Poder, já tão esgarçado perante a opinião pública.

E o pior é que nesse limbo que encontra-se Poder Judiciário, Legislativo e Executivo, os bons "pagam" o preço, por aqueles que militam em causa própria, totalmente descolados da realidade brasileira.

Um país que tem sérios problemas em praticamente todas as áreas. Corrupção endêmica, classe política nefasta, poderes que não ajudam (pelo contrário), saúde calamitosa, sem contar a educação. Temos 27% de brasileiros analfabetos funcionais (sabem ler, mas não compreendem o sentido do que leram). 4% dos estudantes do ensino superior são analfabetos funcionais. O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) da OCDE, deixou o Brasil nas posições 63ª, 59ª e 66ª em ciências, leitura e matemática respectivamente. E olha que são dados de 2015 de acordo com o IBGE.

Então, como não desanimar? Como não se revoltar? Quem labuta diariamente como eu, você, que necessitamos nos dedicar, estudar, estar sempre atualizado para enfrentar esse mundo moderno que aí está, sabemos a que preço é encarado o dia.

Existe mérito em estudar, passar em concurso, enfrentar a rotina dura de estudos para entrar na magistratura. Sim, e isso é louvável!

Mas não justifica o corporativismo e casta que se tornou o Poder Judiciário, na maioria (quase sempre) das vezes, totalmente deslocado da nossa realidade.